É evidente que os governantes já não sabem o que fazer para aplacar a presente crise. Estão desorientados e dão muitas mostras disso. Mas não se ficam por aqui. Ontem o Ministro das Finanças anunciou que o estado vai absorver os fundos de pensões dos bancos nacionais, chegou a declarar:
Este encaixe vai permitir o pagamento de dívidas das administrações públicas, contribuindo assim para o processo de diminuição do rácio de transformação dos bancos portugueses e o financiamento da economia.
[Jornal de Negócios]
Isto são sinais inegáveis de loucura.
Quem no seu juízo perfeito acredita que os bancos vão utilizar o dinheiro, desta forma conseguido, para financiar a economia!? Os bancos há dois anos, a caminhar para três, que cessaram de cumprir a sua função de distribuidores de crédito. Beneficiaram de garantias do estado astronómicas, acederam aos veículos do BCE criados exactamente para impedir os bancos de se afundarem (em Maio iam em 48000M€). Com tudo isto, o que fizeram? – Os bancos limitaram-se a lucrar o máximo possível com a situação, não olhando por um segundo para o estado do país. Lembram-se daquele negócio que os nossos bancos faziam que consistia em financiarem-se no BCE com uma taxa de juro baixíssima para a seguir comprarem dívida soberana? – Verdadeiros patriotas.
Há, inclusive, indicações claras do que os bancos se preparam para fazer:
- Os bancos sempre se mostraram renitentes em recorrer ao fundo de 12000M€ disponibilizado pela Troika, destinado a permitir aos nossos bancos atingirem as metas de capitalização. O motivo é simples, os banqueiros não querem políticos a meter o nariz nos respectivos negócios, seria uma inversão de papeis inadmissível;
- Para possibilitar o anterior, o governo, sempre servil aos interesses destes parasitas, fez o favor de adiar as metas de capitalização dos bancos por seis meses. É evidente que se fossem cumpridos os prazos originais do Memorando da Troika (Janeiro de 2012), os nossos bancos seriam forçados a recorrer ao fundo de 12000M€;
De que forma os bancos vão obter o capital necessário? Recorrendo aos seus próprios fundos de pensões! Golpe de mestre. O problema é que os bancos não podem simplesmente tirar dinheiro dos fundos. É pois necessária a intervenção do estado, que actua como facilitador deste negócio sujo.
Para além do anterior, há ainda um pormenor importantíssimo a considerar, que é saber exactamente até que ponto estes fundos estão saudáveis. Não é díficil encontrar ao longo dos anos notícias sobre reforços feitos pelos bancos, por forma a garantirem o cumprimento das responsabilidades dos fundos (exemplo, BPI em 2005, notícias de elevados défices no fundo de pensões do BCP). Sabemos que os bancos não são propriamente pessoas de bem. Até que ponto podemos confiar nas contas apresentadas?
Não é nada tranquilizante o facto dos bancos terem de reforçar os fundos antes da entrega destes ao estado (e vão faze-lo com títulos de dívida pública, tem de haver alguma ironia escondida no meio disto tudo).
O MdF está muito confiante:
…foi definida num espírito de diálogo com os bancos e sindicatos, acautelando os direitos dos pensionistas. Os direitos das três partes, Estado, bancos e pensionistas, estão garantidos.
[Jornal de Negócios]
Tendo em conta a performance dos governantes nos últimos anos, também não fico nada tranquilo com isto.
O truque do uso dos fundos de pensões para remendar o orçamento é antigo, o ano passado comentava-se acerca da transferência do fundo de pensões da PT para o estado:
Estes comentários aplicam-se perfeitamente ao negócio actual.
Quais são as responsabilidades futuras?
Qual é a liquidez dos activos destes fundos?
Temo que daqui a uns tempos se fale no problema dos fundos de pensões, como agora se fala do problema das PPPs, e dos contratos de concessão elaborados de forma criminosa pelos nossos políticos.
Concordo a 100%.
“Temo que daqui a uns tempos se fale no problema dos fundos de pensões, como agora se fala do problema das PPPs, e dos contratos de concessão elaborados de forma criminosa pelos nossos políticos.”
Claro que isso vai acontecer. Qual a lógica de fazer estes negócios às pressas com a pressão do limite do défice e assim, sem nenhum poder negocial?
Não se percebe.
Ainda não há prisão para crime económico com colarinho brando ou às riscas, nem para quem saca em directo do bolso de ada um para o seu (dele-deles) – desde 1986 que há dinheiro em excesso no país e alguém o tomou para si – a uns seguem “os” outros – a alternância política é assim – andaram todos na mesma escola com o mesmo mestre