O ministro não mentiu quando disse que os transportes de Lisboa (Metro + Carris) e do Porto (Metro + STCP) não iriam ser privatizados. O negócio é ainda melhor, vão ser concessionados! Lucro puro e não adulterado para os amigos – se formos a ver essa coisa do investimento e manutenção de infraestrutura é uma coisa muito cansativa…
Eis a resposta tímida do ministro da economia quando questionado sobre este tema:
Audição em Comissão Parlamentar
Segundo o programa do governo (também conhecido como Memorando da Troika), o plano dos transportes já devia ter sido apresentado no fim de Setembro.
Infelizmente, o governo só parece ter-se preocupado com a data (e mesmo assim atrasou-se). Quem preparou o plano não leu com muita atenção o que os donos ditaram. Na introdução do ponto 5.22 do Memorando, pode ler-se acerca dos transportes:
Adoptar um plano estratégico para: racionalizar as redes e melhorar a mobilidade e as condições logísticas em Portugal; melhorar a eficiência energética e reduzir o impacto ambiental; reduzir os custos de transporte e garantir a sustentabilidade financeira das empresas; reforçar a concorrência no sector ferroviário e atrair mais tráfego; integração dos portos em todo o sistema logístico e de transportes e torná-los mais competitivos.
Parece que todas estas preocupações foram esquecidas. Em vez disso, vai-se criar um negócio impossível, impossível porque vai ser perfeito para quem com ele ficar e, todos sabemos, não existem negócios perfeitos. Ou existem?
Ora leiam a minha previsão sobre como vai este negócio funcionar:
- Vai caber ao estado o investimento em infraestruturas e na manutenção das mesmas;
- Os utentes, cercados de portagens por todos os lados, para já não falar na diminuição dos próprios salários, vão ser obrigados a usar transportes públicos;
- Sem alternativas o cliente vai pagar e vai ter de calar (como na prática não têm alternativa para fugir aos preços da EDP, ou dos combustíveis). De certeza que o estado vai ser muito generoso nos aumentos autorizados, ou poderá mesmo lavar dai as suas mãos;
- Vai-se proibir a concorrência feita por eventuais privados que possam aparecer, por forma a garantir
o lucro do esquemaa qualidade de serviço; - E que não haja preocupações! Se o número de clientes não corresponder às expectativas, o estado repõe a diferença;
Dizem que estou a delirar? Que não vai ser assim? Pois tenho todos os motivos para acreditar no que escrevi, é exactamente desta forma que funcionam algumas das concessões mais apetitosas em Portugal (ver por exemplo o caso da Lusoponte, ou das SCUTs). Foi desta forma que se criaram negócios fantásticos, perfeitos, desde o tempo do Silva das vacas (sorridentes e gordas)…
Também aposto que será exactamente como dizes ou pior ainda. Veremos