Da cimeira do dia 26 resultaram dois documentos, já traduzidos para português, os documentos são:
Se lermos estas magras 17 páginas (fraco resultado para uma maratona de 10 horas), vamos descobrir que, em relação à Grécia, se pretende diminuir a dívida grega para 120% do PIB até 2020. Para isso contam com uma cessação de pagamentos parcial de 50% da dívida detida por investidores privados.
Este é um default muito interessante na medida em que não vai despoletar os contratos de CDS. Na minha perspectiva isto deveria aumentar o risco de emprestar a estas economias – se eu faço um seguro para me proteger do risco e depois em face do desastre sou persuadido a não accionar o seguro, tenho de me sentir exposto à intempérie.
No entanto dos resultados da cimeira espera-se que aconteça exactamente o contrário. Pensam os políticos que ao reduzir desta forma a dívida grega, o país e a Europa ficam em melhores condições para contrair mais dívida? – Parece que sim! Mundo bizarro.
Ou talvez não, algo me diz que todo este optimismo não é muito genuíno. Terá tudo a ver com o facto dos bancos estarem falidos, de tal forma, que o problema grego não é mais do que um problema de arredondamento nas respectivas contas. Desta forma a Europa adia problemas maiores durante uns meses, com a promessa de mais um resgate aos bancos (com o bilião do FEEF?).
A título de exemplo do estado dos bancos, considerem-se estes números do Dexia (lembro que o Dexia teve de ser alvo de um resgate há poucas semanas):
- Exposição à dívida Grega: 3 700 M€
- Exposição geral às dividas soberanas: 19 000 M€
- Dimensão do resgate Franco-Belga: 4 000 M€
- Dimensão das garantias Franco-Belgas: 90 000 M€
- Total de risco de crédito: 500 000 M€
Fontes:
- UPDATE 2-Dexia reveals 3.7 bln euros Greek sovereign exposure (inglês);
- UPDATE 3-Dexia agrees to Franco-Belgian rescue deal (inglês).
Problemas nestes números:
- O banco teve de ser resgatado por problemas em menos de 1% dos activos! (Só acredita quem quer.)
- Se o problema é a exposição à dívida soberana pq motivo se dão 90 000M€ de garantias? – Só por ter perdido a reputação?
- Como é possível um banco ter créditos de 500 000M€ e passar nos testes de stress? (Isto é o dobro do PIB da Bélgica…)
Vou ter de esperar mais um pouco para acreditar nestas cimeiras e nestas declarações…
Tenho lido e ouvido com atenção as notícias e comentários sobre a mais recente reunião-maratona e, realmente, parece-me tudo um pouco confuso. Hei-de ler com mais atenção os textos que de lá saíram mas parece-me que o que vai ser operacionalizado é a recapitalização dos bancos e o “perdão” de parte da dívida da Grécia, acrescido da tal 6ª parcela, ou seja, o que era inevitável no imediato.
Já quanto ao FEEF acho que continua no capítulo das intenções – de concreto, só a missão de “recolha de fundos” à China, onde parece não terem uma recepção muito calorosa… Portanto, o FEEF destina-se a retomar a confiança dos mercados, para que voltem a financiar na área do Euro e, para começar, recorrem aos mercados para constituir o tal fundo (ou eu estou baralhado ou isto é uma baralhada).
Ainda no capítulo das intenções, nota-se muita clareza e firmeza, isso sim, na insistência nas “reformas estruturais”, para o “crescimento e o emprego”, dos países em dificuldades financeiras as quais, na prática, se resumem a cortes cegos nas despesas dos Estados, com evidentes efeitos recessivos, caminho certo para virem a necessitar de mais financiamentos e aumentarem as dificuldades de pagá-los, mais os respectivos juros e encargos agiotas. Aliás, com a Itália a ser empurrada para a arena e a Espanha a entrar pelo seu pé, está a completar-se o “arco sul”, com a inclusão de duas economia de peso, o que poderá tornar o “grave problema grego” numa gota no oceano.
Por último, a “coordenação das políticas económicas”, onde se apontam muitas intenções, poderá vir a ser uma forma das economias dominantes, a começar pela Alemanha, imporem aos outros Estados as medidas mais adequadas para as economias delas (muito provavelmente, pouco adequadas para os outros).
Infelizmente, neste capítulo, podemos apenas esperar pelos desenvolvimentos.
Subscrevo tudo o que disse. É tudo muito confuso e indefinido.
Tem até algumas coisas um bocado ridículas, como o esforço de austeridade exigido à Itália, a única coisa de concreto resume-se ao aumento da idade de reforma para 67 anos até 2026! Tudo o resto são coisas absolutamente vagas (redução do défice, facilitar os despedimentos, sem especificar como atingir estes objectivos).
Sinceramente, esperava um bocadinho mais de dirigentes de primeiro mundo… O que nos leva a concluir que essa história de primeiro mundo deve estar um bocadinho sobre avaliada…
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Leiam com atenção o tratado Mecanismo Europeu de Estabilidade – MEE (ESM em inglês), o qual já foi assinado e até 31 de Dezembro está à espera de ratificação pelos Parlamentos nacionais.– (http://consilium.europa.eu/media/1216793/esm%20treaty%20en.pdf)
http://consilium.europa.eu/media/1216793/esm%20treaty%20en.pdf (vídeo). Interessante cruzar a informação nele dada com o documento do tratado.
Podem também consultar um exclente trabalho em francês sobre esta manobra (http://www.courtfool.info/fr_MES_un_coup_d_etat_dans_17_pays.htm)
Alguns dados traduzidos em: http://artedeomissao.wordpress.com/2011/11/02/mecanismo-europeu-de-estabilidade-mee-esm-em-ingles-2/
Muita manobra de diversão .
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